sábado, 31 de janeiro de 2009

Cedotardar


Tenho no peito tanto medo,É cedo Minha mocidade arde, É tarde Se tens bom-senso ou juízo,Eu piso


Se a sensatez você prefere,Me fereVem aplacar esta loucura,Ou cura

Faz deste momento terno,Eterno Quando o destino for tristonho,Um sonho

Quando a sorte for madrasta,Afasta Não,

não é isto que eu sinto,Eu minto

Acende essa loucura Sem cura Me arrebata com um gesto Do resto Não fale, amor, não argumente Mente Seja do peito que me dói, Herói Se o seu olhar você me nega Me cega Deixa que eu aja como louco,Que é pouco

No mais horroroso castigo,Te sigo
Tom Zé

Agoniada



Sonhava acordada, dormia agoniada Passava o tempo todo a lembrar
Fez uma coisa feia, foi parar na cadeia Por causa de algo que quis tirar de alguém que não lhe fazia bem, que não lhe dava amor e sim dor
Sonhava acordada, dormia atormentada Passava o tempo á imaginar Quando seria o dia e se demoraria Que em sua companhia iria estar alguém
Que lhe fizesse bem, que lhe mostrasse as cores, as flores, o céu
E o tempo foi passando e ela acreditando
Que seu sonho iria virar Mas não tinha certeza, pois ela estava presa Por causa de algo que quis tirar de alguém que não lhe fazia bem, que não lhe dava amor e sim dor.


interprete; Banda Cachorro Grande

Arte de amar




Se queres sentir a felicidade de amar,
Esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.
Deixe o teu corpo entender-se com outro corpo,
porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Manoel bandeira

Borboletas

Quando depositamos muita confiança ou esxpectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande.
As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas espectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as delas.
Temos que nos bastar...nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.
As pessoas nao se precisam, elas se completam...não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você.
O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai acharnão quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

Mário Quintana

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Mahatma Gandhi


Homenagem ao 60º aniversário da morte de Gandhi :


"Nunca perca a fé na humanidade,pois ela é como um oceano.Só porque existem algumas gotas de água suja nele,não quer dizer que ele esteja sujo por completo."


"Viva como se fosse morrer amanhã"."aprenda como se fosse viver para sempre".


"Não há caminho para a paz, a paz é o caminho".


Gandhi

A poetisa da alma



"Cecília levita, como um puro espírito...Por isso ela se move, "viaja", sonha com navios, com nuvens, com coisas errantes e etéreas, móveis e espectrais, transformando em pura poesia essa caminhada. Uma das excepcionalidades de Cecília Meireles: a composição de uma poesia densamente feminina, não apenas a poesia feita por alguém que é mulher, mas obra de mulher, de um sem número de perspectivas sobre as coisas que os homens não teriam, poesia na qual uma das grandes forças é a delicadeza, e delicadeza de poeta, que transfigura a vida em canto..."



Ana Cristina Cesar

Palavras


Espada entre flores,rochedo nas águas,assim firmes, duras,entre as coisas fluídas,fiquem as palavras,as vossas palavras.
Pois se por acaso dentro dos sepulcros acordassem as almas e em sonhos confusos suspirassem rumos de histórias passadas e houvesse um tumulto de ânsias e de lágrimas,
lembrassem as lágrimas caídas no mundonas noites amargas cercadas dos murosdas vossas palavras. Todas as palavras.
Nos espelhos purosque a memória guarda,fique o rosto surdo, a música bravado humano discrurso.De qualquer discurso.
Só de morete exata sonharão os justos, saudosos de nada, isentos de tudo, pascendo auras claras, livres e absolutos, nos campos de pratados túmulo fundos.
No meio das águas,das pedras, das nuvens,verão as palavras:estrelas de chumbo,rochedos de chumbo.A cegueira da alma.O peso do mundo.
Adeus, velhas falase antigos assuntos!
Cecília Meireles

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade

Apenas adeus

Não, não chores por algo tão invisível.
Não chore porque a tristeza por ti dispensada, não terá retorno e então verá que não adianta chorar por tão pouco.
Não, não chores por um sentimento que sabes não existir.
Pois dos sentimentos mais tristes o que mais machuca é a falta de amor próprio.
Não, não chores por pensar que me amas, não chores, porque o sentimento de amor não é tão vazio como você pensa....
Ele é muito mais......
Não, não chores por sentir-se desprezada, pois o desprezo não é nada diante da realidade,que é poupar-se de um sofrimento.
E assim como continua a viver, vivera ainda melhor sem mim.
Um dia quem sabe folheando o livro da sua vida, encontrara nele motivos para agradecer-me, não que eu espere agradecimentos, mas por perceberes o bem que acabei por fazer-lhes.
Não, não chores neste momento que de ti me afasto......
O tempo ensinou-me e aprendo com o tempo,que só ele pode resolver tudo, e que hoje quero que perdoe-me, pois agora quero apenas dizer-te.... Adeus!!!
Geraldo Gomes

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Abismo sem fim


Eucaliptos.
Compactos.
Laranjeiras tristes ao chão.
Convictos de sua triste condição.

Sofrimento de árvore,
ao rangido das serras; pombos apocalípticos,
vão rolando ao chão.

Cactos isolados.
Naquele serrado tão triste, aquela serra tão distante.
Estirados ao chão.

Essa natureza morta, que vejo
Seus galhos caindo ao chão e ninguém cria coragem e mesmo
assustado lavo as mãos.

Nas árvores que ventavam,
Só tristeza existe hoje.
O verde ficou triste, murchou.
Abismo sem fim.

Os monstros que povoavam nossa inconsciência refletem nossa indecência,
Exterminam a existência,
Nada justifica, não tem perdão.

Geraldo Gomes

Trechos...


"Amor quando é amor não definha
E até o final das eras há de aumentar.
Mas se o que eu digo for erro
E o meu engano for provado
Então eu nunca terei escrito
Ou nunca ninguém terá amado."




"O amor não prospera em corações que se amedrontam com as sombras."



William Shakespeare

Broken hearts



Sem mais nem menos a vida ficou amarga, tudo era motivo de briga.......
ninguém mais se entendia......
O desejo perdeu lugar para a certeza do fim......
O drama começa......
O elo se rompeu.....O amor virou ódio.....
Os amantes tornaram-se meros conhecidos..... Cada um segue seu destino em busca de novas "aventuras"....
Alivio....Dor....Esperança......
Os sentimentos se confundem.....
O tempo da nova busca se aproxima !!!!
Marcos A.G








quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

XVII ( I do not love you....)



I do not love you as if you were salt-rose, or topaz,or the arrow of carnations the fire shoots off.I love you as certain dark things are to be loved,in secret, between the shadow and the soul.I love you as the plant that never bloomsbut carries in itself the light of hidden flowers;thanks to your love a certain solid fragrance,risen from the earth, lives darkly in my body.I love you without knowing how, or when, or from where.I love you straightforwardly, without complexities or pride;so I love you because I know no other waythan this: where I does not exist, nor you,so close that your hand on my chest is my hand,so close that your eyes close as I fall asleep.


Pablo Neruda

Che


"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira."

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dar não é fazer AMOR

Dar é dar.Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.Mas dar é bom pra cacete.Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...Te chama de nomes que eu não escreveria...Não te vira com delicadeza...Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.Melhor do que dar, só dar por dar.Dar sem querer casar....Sem querer apresentar pra mãe...Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...Te amolece o gingado... Te molha o instinto.Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro.Dar é bom, na hora.Durante um mês.Para os mais desavisados, talvez anos.Mas dar é dar demais e ficar vazio.Dar é não ganhar.É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro. É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra daro primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:"Que que cê acha amor?". É não ter companhia garantida para viajar.É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.Dar é não querer dormir encaixadinho...É não ter alguém para ouvir seus dengos...Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito. Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.Esse sim é o maior tesão.Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuarExperimente ser amado...



Luís Fernando Veríssimo

Amor


Amor, então, também, acaba? Não, que eu saiba. O que eu sei é que se transforma numa matéria-prima que a vida se encarrega de transformar em raiva. Ou em rima.


Paulo Leminski

Vinícius de Moraes


"Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia."

Nova Luz



Desfez-se a sombra do mistério erranteE as vezes da Mansão Desconhecida, Trazem Á morte estranha e indefinidaA mensagem da vida triunfante!
É a compassiva luz de Outro LevanteRevelando a beleza de Outra Vida,Sol para Terra escura e irredimida,Fé para a humanidade vacilante...
Há claridade sobre a noite imensa...Cai a negra muralha da descrençaAos lampejos celestes da verdade.
É a nova luz divina que se eleva Nos turbilhões de lagrimas e trevaTrocando a senda para a Eternidade.
Psicografia de(Chico Xavier)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pensamentos de Geraldo Gomes



"A humildade nos leva mais longe, no caminho que temos que percorrer em direção à nossa felicidade, tanto no sentido pessoal, quanto material."

Geraldo Gomes

domingo, 25 de janeiro de 2009

O Solitário

Detesto seguir alguém assim como detesto conduzir.
Obedecer? Não! E governar, nunca!
Quem não se mete medo não consegue metê-lo a ninguém,
E só aquele que o inspira pode comandar.
Já detesto guiar-me a mim próprio!
Gosto, como os animais das florestas e dos mares,
De me perder durante um grande pedaço,
Acocorar-me a sonhar num deserto encantador,
E forçar-me a regressar de longe aos meus penates,
Atrair-me a mim próprio... para mim.

Friedrich Nietzsche, em "A Gaia Ciência"

Soneto XLIV

Se minha carne fosse pensamento
A distância jamais me reteria;
Apesar dos espaços, em um momento,
E bem longe, a ti eu chegaria.
Que importa onde meu pé pudesse estar,
Em que terra de ti tão afastada ?
O pensamento salta terra e mar
Só de pensar na terra desejada.
Morro ao pensar que não sou pensamento,
E que sonhar distâncias não consiga;
Sou feito de água e terras, os elementos
Que ao tempo ocioso e à minha dor me obrigam.
De lentos elementos me resigno,
A ter somente as lágrimas, seus signos.
A um dia de verão como hei de comparar-te ?
A um dia de verão como hei de comparar-te ?
Vencendo-o em equilíbrio, és sempre mais amável!
Em maio o vendaval em ternos botões disparte
E o estio se consome em prazo não durável.
Às vezes, muito quente, o olho de céu fulgura,
Outras vezes se ofusca com a sua tez dourada;
Decai da formosura, é certo, a formosura,
Pelo tempo ou o acaso é enfim desadornada:
Mas teu verão é eterno, e não desmaiará,
Nem hás de a possessão perder tua beleza,
Vagando em sua sombra, o fim não te verá,
Pois neste verso eterno ao tempo, tu te igualas:
Enquanto o homem respire, e os olhos possam ver,
Meu canto existirá, e nele hás de viver.



William Shakespeare

Pensamentos de Geraldo Gomes


O mundo está em constante transformação, só não isso quem já se fechou na covardia da ignorância.

O último poema



Manuel Bandeira



Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.



Poema extraído do livro " Manuel Bandeira — 50 poemas escolhidos pelo autor", Ed. Cosac Naify – São Paulo, 2006, pág. 35.

João Cabral de Melo Neto







"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

(Morte e Vida Severina)


Magia do amor


Quando se ama, o tempo não importa
se demoramos ou abreviamos
o que importa,é que naquele momento
somos dois mágicos em busca da perfeição
na magia do amor.

Geraldo gomes




sábado, 24 de janeiro de 2009

Picasso

Pensamentos de Victor Hugo

Cada criança que se ensina é um homem que se conquista



O espírito se enriquece com aquilo que recebe; o coração com aquilo que dá.




Quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as idéias.


Victor Hugo







To my mother

Because I feel that, in the Heavens above,
The angels, whispering to one another,
Can find, among their burning terms of love,
None so devotional as that of "Mother,"
Therefore by that dear name I long have called you-
You who are more than mother unto me,
And fill my heart of hearts, where Death installed you
In setting my Virginia's spirit free.
My mother- my own mother, who died early,
Was but the mother of myself; but you
Are mother to the one I loved so dearly,
And thus are dearer than the mother I knew
By that infinity with which my wife
Was dearer to my soul than its soul-life.


Edgar Allan Poe

Versos íntimos





Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Augusto dos Anjos

Fernando Pessoa


      POEMAS PARA LILI





    Pia, pia, pia
    O mocho.
    Que pertencia
    A um coxo.
    E meteu o mocho
    Na pia, pia, pia...

Frases e pensamentos de Clarice Lispector

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever"
Clarice Lispector




"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."




"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."

Há Momentos


Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.



Clarice Lispector

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Valor das manhãs

Quero a vida sem restrições
Bela, mas com caos nas curvas
Viver o ímpeto das ilusões
Fazer clara águas turvas

Um dia disse a mim
O amor é momento e algo mais
E o algo se desvanesceu
E o que sobrou foram vendavais

Aqui nas madrugadas
Cantando palavras vãs
Que me ensinaram tanto
O valor daquelas manhã

Mr Adell

Vida real

A vida não é mais como era antigamente......
tudo mudou......
nós vivemos em uma sociedade imediatista, suja como a podridão escondida na vida humana.
pobres humanos.... pois a morte continua a mesma!!!

O deus-verme


Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme - é o seu nome obscuro de batismo.

Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrôpicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...

Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!

Augusto dos Anjos

Espera?


Tenho a vida na eternidade
E a eternidade não se mantém
Volátil ela, rápida
E se não for vivida evapora
A graça e o valor se foram
E o eterno dos segundos foi embora.
No caos da espera de tudo.


Mr Adell

A Terceira Margem do Rio - Guimarães Rosa



O Homem manda construir uma canoa, despede-se da família sem palavra alguma e parte, tornando-se rio... Rio abaixo, rio acima, o pai, desfigurado de tempo, transforma-se em paisagem enquanto, à margem, o filho acompanha sua trajetória e tenta definir os porquês.
A rotina incorpora o mistério. A família se adapta à nova realidade, cria novas margens para o curso cotidiano, nascimentos e mortes marcam o tempo, e o que os outros falam preenche o pensamento da família. A culpa permeia os sobreviventes, mas todos se calam diante do silêncio da terceira margem.
O homem e o rio... Todos fingem não perceber a loucura - a lucidez é rendida pela culpa. Por que o homem abandonou a margem para ser meio de rio? Por que o filho abandonou a travessia para ser margem?
Sem destino, não há mais origem... A vida desmorona em frágeis margens... O homem, o filho, o rio... Paisagens coisificadas no mundo, homens lançados à margem de qualquer possibilidade.
A terceira margem do rio é um conto primoroso de Guimarães Rosa, onde o autor aborda a loucura e o abandono com a poesia e a linguagem que caracterizam o grande escritor. Trata metaforicamente a origem, o destino e a travessia, a necessidade de viver as águas, ora violentas, ora calmas, do rio com o objetivo de chegar ao lugar almejado.
O conto termina quando, num ato desesperado, o filho se oferece para ficar na canoa no lugar do pai e foge com a aproximação do mesmo. A iminência de se tornar rio e o primeiro gesto do pai depois de tantos anos o preenchem de medo. O filho pede perdão pelo "procedimento desatinado", mas o pai desapareceu para sempre no rio.
"Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água, que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio adentro - o rio."
Em outras obras de Guimarães Rosa, encontramos as margens e os rios. No romance Grande sertão - Veredas, o protagonista Riobaldo fala sobre as margens do rio e como não percebemos a travessia por estarmos tão preenchidos de margens - de origens e destinos. A vida aporta às margens e não incorpora as vivências do rio.
"Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido nas idéias dos lugares de saída e de chegada."
Homens que abandonam os ideais e ficam a cargo do rio da rotina; outros que enlouquecem e perdem o sentido, e ainda os que apenas preferem constituir calados à terceira margem, tornando-se indiferentes ao mundo. Não há responsabilidades ou objetivos, são apenas margens da margem num rio indiferente.
São tantos os rios passíveis de travessia... E também tantas as margens... Reticente, a linguagem demonstra a possibilidade de navegação dos grandes rios. O recomeço, a recriação de cada margem de origem e a transformação do destino em um novo porto inicial. Não são apenas as palavras de Guimarães Rosa que margeiam os grandes rios, são as ações, as diversas etapas de sua vida que demonstram a grandeza dos grandes navegadores.
Em 1952, Guimarães Rosa retornou aos seus "gerais" quando participou junto com um grupo de vaqueiros por uma viagem pelo sertão - longa viagem às raízes deste ilustre brasileiro que criou na literatura uma nova linguagem, imortalizando os homens que permaneceram à margem da história brasileira.
Com tantas veredas conquistadas na aridez dos sertões cotidianos, Guimarães Rosa é a pluralidade das margens, o curso dos rios ou a viagem aos grandes sertões individuais como inspiração para tantas novas crônicas. Aventurar-se na travessia é dar margem ao desbravamento de nossas possibilidades, escrevendo as lutas e realizações no centro do manuscrito.

Helena Sut