sábado, 28 de fevereiro de 2009

(Não) Pergunte aos universitários

1. Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.
(Já imaginou isso!)

2. O nervo ótico transmite idéias luminosas para o cérebro.
(Se o cara é obtuso, o nervo dele deve emitir ideias sombreadas, não é mesmo?)

3. O vento é uma imensa quantidade de ar.
(Que coisa! Não tinha pensado nisso.)

4. O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.(Só faltou completar que esse movimento é um braço armado do M.S.T.)

5. Os Egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudesse viver melhor.(Nada mais justo! Não dá para viver a eternidade desconfortavelmente.)

6. Péricles foi o principal ditador da democracia grega.
(Isso! E Stalin foi o principal seguidor de Mahatma Ghandi...)

7. O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.(A criatura que escreveu isso,deve ter raciocinado com a própria abundância e não com o cérebro.)

8. O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d"agua.( Sim! Foi no mesmo periodo geológico em que as aves tinham vertigem e as
minhocas claustrofobia.)

9.A principal função da raiz é enterrar.(É impressionante!)

10.O Sol nos dá calor e turista.(Esse,com certeza é carioca)

Ser mineiro....

Ser mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer.
É fingir que não sabe aquilo que sabe,
É falar pouco e escutar muito,
É passar por bobo e ser inteligente,
É vender queijos e possuir bancos.

Um bom mineiro não laça boi com embira,
Não dá rasteira no vento,
Não pisa no escuro,
Não anda no molhado,
Não estica conversa com estranhos,
Só acredita na fumaça quando vê o fogo,
Só arrisca quando tem certeza,
Não troca um pássaro na mão por dois voando.

Ser mineiro é dizer “uai”,
É ser diferente,
É ter marca registrada,
É ter história.
Ser mineiro é ter simplicidade e pureza,
Humildade e modéstia,
Coragem e bravura,
Fidalguia e elegância.
Ser mineiro é ver o nascer do sol e o brilhar da lua,
É ouvir o cantar dos pássaros e o mugir do gado,
É sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida.
Ser mineiro é ser religioso e conservador,
Cultivar as letras e as artes,
É ser poeta e literato,
É gostar de política e amar a liberdade,
É viver nas montanhas, é ter vida interior.

autor desconhecido

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Eternidade


O espelho já não reflete minha imagem
A minhas mãos já não podem mais tocar ,
As pessoas me ignoram,
Quem me amava, já me esqueceu
Quem eu havia esquecido é quem mais amo
Posso ir a lugares que sempre sonhei,
o preço, talvez seja caro, solidão
Viajar sozinho nunca me agradou!
O tempo agora é meu aliado
agora que posso fazer de tudo,
nada me satisfaz.
O medo que sinto ao lado do vazio
me consome, o eterno parece muito longo!
Fico esperando, já nem sei o que
Esperança ainda resta aqui nem sei onde
Mas se algum dia passardes por aqui meu amigo
Não te esqueças de dizer olá, afinal
a lugar algum irei, e se for jamais te esquecerei,
nada melhor que o tempo e a distancia,
para ensinar que nem a eternidade pode vencer
a amizade.
E nem a amizade pode vencer a batalha que nunca lutei.

Anderson Oliveira

Ela disse não, não era

Eu perguntei se ela era daqui,
Ela disse que não,não era,
Eu perguntei se ela era estrangeira então,
Ela disse que não,não era

Eu perguntei se ela era humana,
Ela disse que não,não era,
Eu disse que ela era linda
Ela disse que não,não era,

Disse que era perfeita para mim
Ela disse que não,não era,
Perguntei de novo se ela era daqui,
Ela apontou para minha cabeça,
E disse não,não era,

Eu perguntei se ela era um sonho,
Ela sorriu, e já translúcida me respondeu,
Respondeu-me que sim, ela era,
E assim voltou para o lugar que nunca deveria ter saído.

Cassiano R. Galli

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Pensamentos de Geraldo Gomes (reflexão)




"Não queira fugir de um problema,você pode até conseguir, mas alguma coisa sempre fica para trás, então de nada valerá a sua fuga.O melhor mesmo é encara-lo e tentar resolve-lo."

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A peste


Filha da raiva de Jeová - a Peste
N'um insano ceifar que aterra e espanta,
De espaço a espaço sepulturas planta
E em cada coração planta um cipreste!

Exulta o Eterno e... tudo chora, tudo!
Quando Ela passa, semeando a Morte,
Todos dizem co'os olhos para a Sorte
- É o castigo de Deus que passa mudo!

- Fúlgido foco de escaldantes brasas
- O sol a segue, e a Peste ri-se, enquanto
Vai devastando o coração das casas...

E como o sol que a segue e deixa um rastro
De luz em tudo, ela, como o sol - o astro -
Deixa um rastro de luto em cada canto!

Augusto dos Anjos

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Uma visão financeira


Publicado em um site financeiro

Uma mulher escreveu pedindo dicas sobre como arrumar marido rico. Só isso já é engraçado, mas o melhor da história é que um cara deu a ela uma resposta bem fundamentada.


Dela:

Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste site? Ou esposas de gente que ganhe isso e possa me dar algumas dicas? Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso, e 250 mil não vão me fazer morar em Central Park West. Conheço uma mulher da minha aula de ioga que casou com um banqueiro e vive em Tribeca, e ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente. Então, o que ela fez de certo que eu não fiz? Como eu chego ao nível dela?


Dele:

Li sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação. Primeiramente, não estou gastando o seu tempo, pois ganho mais de 500 mil por ano. Isto posto, considero os fatos da seguinte forma: o que você oferece, visto da perspectiva de um homem como você procura, é simplesmente um péssimo negócio. Eis por que: deixando as firulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples. Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro. Proposta clara, sem entrelinhas. Mas tem um problema. Com toda certeza, a sua beleza vai decair e um dia acabar, e o mais provável é que o meu dinheiro continue crescendo.

Assim, em termos econômicos, você é um ativo sofrendo depreciação, e eu sou um ativo rendendo dividendos. Você não somente sofre depreciação como essa depreciação é progressiva, sempre aumenta. Explicando: você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5 a 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano, e de repente, se você se comparar com uma foto de hoje, verá que já estará um caco. Isto é, você está hoje na "alta", na época ideal de ser vendida, não de ser comprada.

Usando o linguajar de Wall Street, quem a tem hoje deve tê-la em "trading position" (posição para comercializar), e não de "buy and hold" (compre e retenha), que é o para quê você se oferece. Portanto, ainda em termos comerciais, casamento (que é um "buy and hold") com você não é um bom negócio a médio/longo prazo, mas podemos pensar em "leasing" (alugá-la), ou, em termos politicamente corretos, um negócio razoável de que podemos cogitar é namorar. Já cogitando, e para certificar-me do quão "articulada, com classe e maravilhosamente linda" você seja, eu, provável futuro locatário dessa "máquina", quero o que é de praxe: fazer um "test drive". Posso marcar?


Autor desconhecido

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Pessoas....

Pessoas
que choram...
que riem...
que silenciam...
em cada pessoa
a uma historia...
a uma decepção...
a uma dor...
a pessoas que
já se machucaram...
já se arrependeram...
já perdoaram...
e num momento
especial da vida
a pessoas que até
amaram....

Miguel Angelo

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O amor

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.
Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.
Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.
Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,
mas deixai
cada um de vós estar sozinho.
Assim como as cordas da lira
são separadas e,
no entanto,
vibram na mesma harmonia.
Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.
E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.
Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.
E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.


(KAHLIL GIBRAN)

A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Frases de Kahlil Gibran

"Quando você levantar o braço para bater em seu filho, ainda com o braço no ar, pense se não seria mais educativo se você descesse esse braço de forma a acariciá-lo, em vez de machucá-lo."



"Um livro é como uma janela. Quem não o lê, é como alguém que ficou distante da janela e só pode ver uma pequena parte da paisagem."

"No amor , fiquem juntos , mas nao tao juntos ,pois os pilares do templo ficam bastantes afastados e o carvalho e o cipreste nao crescem um na sombra do outro."

"Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria."

Kahlil Gibran Kakil

Sentimento do mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

Carlos Drummond de Andrade

Invictus

Do fundo da noite que me envolve
Escura como o inferno de ponta a ponta
Agradeço a qualquer Deus que seja
Pela minha alma inconquistável
Nas garras dos destino
Eu não vacilei nem chorei
Sob as pancadas do acaso
Minha cabeça está sangrenta, mas ereta
Além deste lugar tenebroso
Só se percebe o horror das trevas
E ainda assim, o tempo,
Encontra, e há de encontrar-me, destemido
Não importa quão estreito o portão
Nem quão pesado os ensinamentos
Eu sou o mestre do meu destino
Eu sou o comandante da minha alma

Willian Ernest Henley

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Mensagens em produtos


Num secador de cabelos:“NAO USE QUANDO ESTIVER DORMINDO”(Sei lá, você pode querer ganhar tempo.)

Na embalagem do sabonete anti-séptico Dial:“INDICAÇÕES: UTILIZAR COMO SABONETE NORMAL”(Boa! Cabe a cada um imaginar pra que serve um sabonete anormal)

Em alguns pacotes de refeições congeladas Swan:“SUGESTÃO DE APRESENTAÇÃO: DESCONGELAR PRIMEIRO”(É só sugestão, tá ok? De repente o pessoal pode estar a fim de chupá-las como picolé.)

Numa touca para a ducha:“VÁLIDO PARA UMA CABEÇA”(Alguém muito romântico poderia colocar a sua e a da amada na mesma touca.)

Na sobremesa Tiramisú da marca Tesco, impresso no lado de baixo da caixa:” NÃO INVERTER A EMBALAGEM”(Opa! Se você leu o aviso, é porque já inverteu!)

No pudim da Marks & Spencer:“ATENÇÃO: O PUDIM ESTARÁ QUENTE DEPOIS DE AQUECIDO”(Brilhante!)

Na embalagem do ferro de passar Rowenta de fabricação alemã:“NÃO ENGOMAR A ROUPA SOBRE O CORPO”(Gostaria de conhecer a infeliz criatura que não deu ouvidos a este aviso)

Num medicamento pediátrico contra o catarro infantil, da Boots:“NÃO CONDUZA AUTOMÓVEIS NEM MANEJE MAQUINÁRIA PESADA DEPOIS DE TOMAR ESTE MEDICAMENTO”(Tantos acidentes poderiam ser evitados se fosse possível manter esses travessos miúdos de 4 anos longe dos volantes dos carros e dos tratores Caterpillar)

Nas pastilhas para dormir da Nytol:“ADVERTÊNCIA: PODE PRODUZIR SONOLÊNCIA”(Pode não, deve! Foi prá isso que eu comprei).

Numa faca de cozinha:“IMPORTANTE: MANTER LONGE DAS CRIANÇAS E ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO”(Será que lá os cachorros e gatos são ninjas disfarçados? Nunca vi nenhum mexer em faca!)

Numa caixa de luzes para decoração de Natal:“USAR APENAS NO INTERIOR OU NO EXTERIOR”(Alguém pode me dizer qual é a 3ª opção?)

Nos pacotes de amendoim da Sainsbury:“AVISO: CONTÉM AMENDOINS”(Mania de estragar as surpresas!)

Numa serra elétrica da Husqvarna, de fabricação sueca:“NÃO TENTE DETER A SERRA COM AS MÃOS OU OS GENITAIS”(Kit de castração caseira?)

Num saquinho de batatas fritas:“VOCÊ PODE SER O VENCEDOR. NÃO É NECESSÁRIO COMPRAR. DETALHES DENTRO”.(sem comentários)

Numa fantasia infantil de Super-Homem:“O USO DESSE TRAJE NÃO O TORNA APTO A VOAR”.(Olha como isso destrói a imaginação da criança!)

Meerstempel Badist

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mãos dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Timidez


Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...


— mas só esse eu não farei.


Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,


— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.


Cecília Meireles

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Confúcio


Uma vez perguntaram a Confúcio:"O que o surpreende mais na humanidade? "Confúcio respondeu:
"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la.Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por não viver no presente nem no futuro.Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..."

Frases e pensamentos (Carlos Drummond de Andrade)

"A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca."

"Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la."

"Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado."

"Entre a dor e o nada o que você escolhe."


A língua lambe



A língua lambe as pétalas vermelhas da rosa pluriaberta; a língua lavra certo oculto botão, e vai tecendo lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta, a licorina gruta cabeluda, e, quanto mais lambente, mais ativa,atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos de leões na floresta, enfurecidos.


Carlos Drummond de Andrade
ilustração de Milton Dacosta

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pensamentos de Geraldo Gomes

"Encarar a verdade as vezes machuca e dói, no entanto é bem melhor do que viver fugindo dela."

"Na velocidade do tempo muitas vezes derrapamos nas curvas do destino, e a nossa sobrevivência só depende da nossa perícia no volante da vida."

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Orgasmo


Todo corpo, em seu esplendor, divide em duas esta vida, mas este êxtase existe mesmo para ocultar uma descida da carne, no único momento em que do cosmo é instrumento;truque do eterno é todo amor:toca por baixo o fogo alto que aquece o sonho ao sol se pôr, porque logo devolve aos dois o nada de antes e depois.


Alberto da Cunha Melo

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Pensamentos de Carlos Drummond de Andrade

“Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.”

“A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas."

“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional”


Carlos Drummond de Andrade

Em minha lembrança

Um dia chegará em que, num determinado momento, um médico comprovará que meu cérebro deixou de funcionar e que, definitivamente, minha vida neste mundo chegou ao seu fim.
Quando tal coisa acontecer, não digas que me encontro em meu leito de morte.
Estarei em meu leito de vida e cuida para que esse corpo seja doado para contribuir de forma que outros seres humanos tenham uma vida melhor.
Dá meus olhos ao desgraçado que jamais tenha contemplado o amanhecer, que não tenha visto o rosto de uma criança ou, nos olhos de uma mulher, a luz do amor.
Dá meu coração a alguma pessoa cujo coração só lhe tenha valido intermináveis dias de sofrimento.
Meu sangue, dá-o ao adolescente resgatado de seu automóvel em ruínas, a fim de que possa viver até poder ver seus netos brincando ao seu lado.
Dá meus rins ao enfermo, que deve recorrer a uma máquina para viver de uma semana à outra.
Para que um garoto paralítico possa andar, toma toda a totalidade de meus ossos, todos os meus músculos, as fibras e os nervos todos de meu corpo.
Mexe em todos os recantos de meu cérebro. Se for necessário, toma minhas células e faze com que se desenvolvam, de modo que, algum dia, um garoto sem fala consiga gritar com entusiasmo ao assistir a um gol, e uma garotinha surda possa ouvir o repicar da chuva contra o vidro da janela.
O que sobrar do meu corpo, entrega-o ao fogo e lança as cinzas, ao vento, para contribuir com o crescimento das flores.
Se algo tiveres que enterrar, que sejam os meus erros, minhas fraquezas e todas as minhas agressões contra o meu próximo.
Se acaso quiseres recordar-me, faze-o com uma boa obra e dizendo alguma palavra bondosa ao que tenha necessidade de ti.


Autor desconhecido

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Frases e pensamentos de Clarice Lispector

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”

“Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”

“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.”

Clarice Lispector

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Pensamentos de Geraldo Gomes

“Existem varias maneiras de se viver a vida, mas o pior é não vive-la.”

“Ao fazer alguma coisa em beneficio de alguém, faça sem esperar retorno porque se o fizer de nada terá adiantado a sua boa ação.”

“Procure vencer o medo e a insegurança, só assim conseguirá superar as limitações que estes sentimentos lhe impuseram.”


Geraldo Gomes
Só e triste
Coração ferido
Falando quase nada.
Triste e só, Que triste fim...

Só e calado
Sangrando por dentro
Sem nada poder fazer
Só o amanha dirá.

Só e em prantos
Lágrimas a todo o momento
O que fazer? Não sei.
Interrogações sem respostas.

Só e vazio
Como um balão que
Murchou, o vento veio
Mas nada mudou.

Só e melancólico
Buscando respostas e forças para lutar.
Sem nada perder.

Só e...
Buscando razões, razões para continuar a viver!

Geraldo gomes

Pensamentos de Geraldo Gomes

"Seja você mesmo, sem máscaras, sem falsa imagem, com certeza serás bem mais respeitado e aceito pelas pessoas que te rodeiam."
Geraldo Gomes

Síntese das antíteses



Só temos consciência do belo,
Quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom,
Quando conhecemos o mau.
Porquanto, o Ser e o Existir,
Se engendram mutuamente.
O fácil e o difícil se complementam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silêncio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo.
Eis porque o sábio age
Pelo não agir,
E ensina sem falar,
Aceita tudo que lhe acontece
Produz tudo e não fica com nada.
O sábio tudo realiza e nada considera seu
Tudo faz – e não se apega à sua obra
Não se prende aos frutos da sua atividade
Termina a sua obra
E está sempre no princípio
E por isto a sua obra prospera.


Lao Tse

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Soneto de tortura e desencanto


Não sei que angústia me incomoda o peito que não posso estar firme nem parado.Com o pensamento sempre desvairado,falta-me calma até quando me deito.
A noite vago as ruas, odeio o leito,não durmo, não descanso, não me enfado,não fujo, não me mato, e o rosto irado até de rir perdeu a forma e o jeito.
Por isso não te admire, amiga minha,que ternura hoje em dia me careça na voz, que tantas vezes te acarinha.
Mas é que sofro de sentir diverso:e onde repousarei minha cabeça, se a dor humana não couber num verso?
Ângelo Monteiro

Pensamentos de Geraldo Gomes (reflexão)


"Ocupe seus pensamentos com bons propósitos, agindo assim evitará que o negativismo e a falta de fé determinem o seu fracasso ante os desafios que a vida lhe impuser."

Extrema confiança

"Amor significa compartilhar não somente as experiências felizes, mas também os desapontamentos, tristezas e sentimentos mais íntimos, com a extrema confiança de que eles serão respeitados e guardados."
Jaime Kemp

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pensamentos de Geraldo Gomes

"Seja grato pelo teu passado, tenha ele sido bom ou ruim, pois de alguma maneira ele te serviu ou servira de experiência no teu presente ou no futuro."


"O sofrimento não é próprio do ser humano, mas sim das suas fraquezas e inconstâncias."


"Fé, ter ou não ter, faça sua opção."

Culpa


Meus passeios poluem o mundo.
Para ler, gasto a luz de cidades inundadas.
A geladeira esburaca a camada de ozônio.
Banhos longos desertificam o planeta.
Para comer, beber, viver gasto dinheiro (que nem ganhei).
Meus poemas derrubam árvores.

Fabio Rocha

Dentro da noite veloz




"(...)Ernesto Che Guevara teu fim está perto não basta estar certo pra vencer a batalha.Ernesto Che Guevara entrega-te à prisão não basta ter razão pra não morrer à bala.Ernesto Che Guevara não estejas iludido a bala entra em teu corpo como em qualquer bandido.Ernesto Che Guevara por que lutas ainda? a batalha está finda antes que o dia acabe.Ernesto Che Guevara é chegada a tua hora e o povo ignora se por ele lutavas."

Ferreira gullar

Fome, Sede e Vontade de ler


Os biólogos, cientistas, cientificistas - enfim, qualquer estudioso do corpo humano - não cansam de afirmar e reafirmar a perfeição do corpo humano. A mais completa máquina já criada. O complexo sistema de células, órgãos, substâncias que sintetizam a perfeição. Pois tratemos de discordar. O corpo necessita de combustíveis. Se precisamos de água, temos sede. De comida, temos fome. Nunca paramos de respirar. Por que nos falta uma necessidade de ler? Alias, não há sequer um nome pra isso. Simplesmente “a necessidade de ler”. Algo como a manutenção da intelectualidade, ou da saúde do cérebro. Ler. Ler como quem mata a sede. Como quem avança sobre um prato de comida. Um copo de água bem gelada e uma Clarice. Uma lasanha e um Machado. Para todos os dias, arroz, feijão e Allan Poe.
A falta de leitura deveria ser retratada em fotografia premiada pela National Geographic. Concorrentes do “Foto do ano de 2004”: O menino faminto da Etiópia, a baleia encalhada da Antártida e o Sem-livro do Brasil. Deveria estar estampado na cara do sujeito: “Sou subletrado”.Não se justifica com a situação do nosso país. Não se trata aqui da falta de incentivo e de educação, já notória e discutida. Mas de atitude.Os jovens - ah, sempre os jovens – não conseguem, ou não querem, enxergar o benefício da leitura. Qualquer leitura. E os jovens crescem, ou já cresceram, subletrados. Daí a pergunta: E se houvesse uma necessidade física? Penso que ainda há o que mudar na estrutura humana. Que tal essa dica? Hein! Na falta de uma terminologia melhor, fica a “fome de leitura”, ou a FOMURA. O menino grita: “Manhêêê, to com uma fomura danada”. E ela vem correndo com a Ruth Rocha que é pro menino parar de reclamar. O pai, no meio da noite, acorda com o choro do bebê. Dá a mamadeira, troca a fralda e lê o Ziraldo enquanto o neném não consegue sozinho. O casal de namorados vai sair a noite. Jantar, choppinho ou leitura? O rapaz mais afoito sugeriria um João Ubaldo. O divorciado um Nabokov. O mais esperto um Vinícius (sim, elas ainda adoram). E a combinação vinho, massa e Drummond? Irresistível.
O sonho enfim se concretizaria com o obeso-literato. Aquele que, de madrugada, assalta a estante. Acha que não faz mal um Parnasianismozinho durante as refeições. Vai ao médico, o letricionista, que lhe passa uma dieta a base de romance. Nada muito pesado. Depois das 20 horas, só Sidney Sheldon. Mas cai em tentação e é flagrado com “Crime e Castigo” nas mãos. A família se preocupa. Tornou-se um livrólatra. Só o L.A. poderá salvá-lo. Nas reuniões com o grupo de viciados em literatura, ele conta sua saga: “Bem, comecei aos 10 anos. Como todo mundo. Fadas, chapéus, narizes que cresciam. Depois eu parti pros livros menores. Mas quando você menos espera, já está devorando um Jorge Amado numa sentada só”. Um “ooh” ecoa na sala. Senhoras comentam entre si. “Tão novinho e tão letrado né!”Bibliotecas lotadas. Um silêncio ensurdecedor. Filas enormes para entrar. É muita gente morrendo de fomura. Consegue uma mesa, pede o menu.- Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino pode ser um Lobato, que ele adora!!- Senhor! Nossas Cecílias acabaram.- O quê? E o que você sugere?- Nosso Eça é legítimo, senhor! E temos Camões
- É que os portugueses são caros né! E meu médico me proibiu Camões durante a semana.- Algum Andrade?- Não sei. Não sei. To indeciso ainda.Depois de alguns minutos pensando e testando a paciência do rapaz que lhe servia...- Ah, vou de Paulo coelho mesmo que é só pra matar a fomura.
Fabiano Cambota


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Fabiano Cambota é líder e vocalista da Banda Pedra Letícia. ,É goiano (mas urbano), inteligente e divertido....

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Desencanto



Eu faço versos como quem chora De desalento. . . de desencanto. . .Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto.Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .Tristeza esparsa... remorso vão...Dói-me nas veias. Amargo e quente,Cai, gota a gota, do coração.E nestes versos de angústia rouca,Assim dos lábios a vida corre,Deixando um acre sabor na boca.– Eu faço versos como quem morre.










Manuel Bandeira //// imagem: Carlos Gaspar

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Eu deixara este verde como herança


Eu deixara este verde como herança,se do peso do verde, libertado,pudesse o mar em mim enclausurado,rebentar as barreiras da esperança.
Ó ditoso país da remembrança,cujo mar não me afoga, mesmo irado.Mas se divide em dois, e desmembrado,abre lúcida margem que me alcança.
Tal não é este mar, sempre agitado,que trago dentro em mim, capturado,na fé, no amor e na desesperança.
Como quem traz em si a força e o fado.E, posto que este mar seja sonhado, eu vos deixo o seu verde como herança.



Ângelo Monteiro

Correspondências

tradução de Ângelo Monteiro

A natureza é um templo onde pilares vivos semeiam o ar em torno de confusas vozes;o homem passa através de florestas de símbolos que o perscrutam com seus cotidianos olhos.
Ecos que prolongados se encontrassem longe como numa unidade funda e tenebrosa,na mesma vastidão unindo a noite e a aurora,confundem-se os perfumes, as cores e os sons.
Há perfumes tão tenros como a carne do infante,doces como oboés, e verdes como os campos,além dos corrompidos, embora triunfantes.
Cheios dessa expansão das coisas infinitas,como o almíscar, o incenso, o benjoim e o âmbar,que os transportes espalham da alma e dos sentidos.
Charles Baudelaire

Morte sob contratos


Sua morte, sob encomenda, ajustada a si como roupa, não prêt-à-porter, contra entrega, mas bala a bala, gota a gota,era, no entanto, igual à vida que antes viveu, sob a medida da ordem, da métrica demência, a que distribui a matança de acordo com a procedência e o cadastro da freguesia da morte, a crescer todo dia.



Alberto da Cunha Melo

Biológicas, Exatas e Desumanas

Rosana Hermann

Não terei tempo de procurar na rede o nome do culpado pela divisão das disciplinas de educação em três vertentes, mas de alguma forma o conhecimento formal ficou dividido em ciências biológicas, ciências exatas e ciências humanas. Acho lindo que tudo seja tratado de forma cientifica e organizada mas temo que esta tripartição não tenha sido um bom negócio, especialmente hoje, vendo que duas pernas se desenvolveram e uma ficou atrofiada. O homem passeia em Marte com seu robô e envia imagens ao vivo, com exatidão tecnológica surpreendente. Aqui na Terra, clona-se seres vivos e as esperanças de cura se renovam com o desenvolvimento de pesquisas com células-tronco. O tripé do conhecimento desenvolveu pernas longas e bem torneadas para as exatas e biológicas. Infelizmente, com o crescimento das outras duas, a terceira perninha, as ciências humanas, que incluem coisas como a filosofia e a ética, ficou ali, atrofiada e penduradinha como um bilauzinho no inverno polar. E isso, tem tudo a ver com a crise humana do mundo atual.
Estamos todos mais grotestos, mais rudes, mais estúpidos. Somos bem informados mas nos tornamos ignorantes. Temos automóveis com GPS mas dirigimos como trogloditas neuróticos. Viajamos pelo mundo inteiro mas temos preguiça de procurar o baldinho de lixo para jogar o papelzinho da bala. A falta de finesse é geral. Isso tudo, se não for coisa do demo, se não for a prova definitiva de que o projeto ‘ser humano’ não deu certo, só pode ser atribuído à falta de atenção que demos às ciências humanas, justamente aquelas mais sutis, que não dependem de equações, que não se baseiam nas medições matemáticas e não podem ser testadas em laboratório.
O vórtice vicioso que nos suga ralo abaixo passa por todas as estatísticas de descaso com as disciplinas que podem desenvolver o refinamento das pessoas. Não existem empregos para filósofos, sociólogos, pedagogos, historiadores, cientistas sociais. E, por não ter mercado, os estudantes não optam por estas matérias na hora de fazer o vestibular. Como a procura é pouca, há poucos cursos e etc. e tal.
O que fazer? Bem, esta é uma resposta para as ciências humanas também. Quem tiver sobrevivido na área terá que formular as soluções para esta crise de humanidade que vivemos hoje. Não sei onde o flower power murchou, onde o amor livre foi preso ou como a vida em fazendas cooperativas se transformou nesse mar de prédios de escritórios neuróticos baseados na competição. Só sei que temos que voltar até a bifurcação onde tomamos a trilha errada. Nesta trilha, ansiedade e depressão nos matam, o estresse e a má alimentação engordam, a ira destrói toda nossa capacidade de sentir e amar.
Eu, lentamente, comecei a voltar. E adoraria contar com todas as pessoas de bem, os irmãos de fé, os companheiros de jornada, os camaradas de ideologia, os humanos de coração, para um grande encontro de volta naquele velho ponto da bifurcação. Onde um dia, alguém colocou uma flor no cano de uma carabina.
Humanos, uni-vos.

Fernando Pessoa


Drummond saúda Pessoa



SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA


Onde nasci, morri. Onde morri, existo. E das peles que visto muitas há que não vi. Sem mim como sem ti posso durar. Desisto de tudo quanto é misto e que odiei ou senti. Nem Fausto nem Mefisto, à deusa que se ri deste nosso oaristo, eis-me a dizer: assisto além, nenhum, aqui, mas não sou eu, nem isto.



Carlos Drummond de Andrade In Claro EnigmaJosé Olympio, 1951

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Vento insano



O vento vai levar meus pensamentos
Sem deixar rastros
Das montanhas sem assas as esquinas das casas

deixando de ser eu
Pra me sentir seu
Para lá, para cá

não sei onde meu pensamento vai parar
O pensamento voa loucamente
O pensador lamenta a ausência.......
para longe se foi......
mas tão perto chegou....
pensamento .....
insano pensar........
Longe para não mais voltar!!!!
Ansuz


Frases (Clarice Lispector)

"Gosto dos venenos os mais lentos! As bebidas as mais fortes! Dos cafes mais amargos! E os delirios mais loucos.Voce pode ate me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:E daí eu adoro voar!!!"

Mude


Mude,mas comece devagar,porque a direção é mais importante que a velocidade.Sente-se em outra cadeira,no outro lugar da mesa.Mais tarde, mude de mesa.Quando sair,Procure andar pelo outro lado da rua.Depois, mude de caminho,ande por outras ruas,calmamente....
Clarice Lispector

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A fila



Dos manequins o sangue plasma sua história.Portam roupas diversas e um sonho comum.Eles estão na fila - satélites sem glória -girando sem parar seu destino nenhum.
Eles estão na fila, através das idades,incensando o best-seller e o último modelo.A lista telefônica é a sua identidadee a crônica social seu derradeiro apelo.
Travestidos da vida e amadores da praça vivem com toda força o nada e sua usura:qualquer canto de página é u'a santa escritura qualquer esquecimento é maior que a desgraça.




Ângelo Monteiro

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Análise da sombra



Analisa-se da sombra seu caráter permanente: pela manhã retraindo a imagem, à tarde crescente. E aquele instante em que a sombra adelgaça o corpo fino como se no chão entrasse quando o sol se encontra a pino. Quem a esse instante mira em oposição ao lado onde o sol era luz antes logo vê o passo vago da sombra que agora cresce o corpo de onde se filtra até fundir-se no limbo que em torno dela gravita. Forma esse limbo a coroa que as sombras traz federadas: soma de todas as sombras num só nó à noite atadas.






Cesar leal

Minha águia

ó

Não

não quero

Não quero perder

Não quero perder contato

Não quero perder contato com

Não quero perder contato com a

Não quero perder contato com a minha

Não quero perder contato com a minha Águia

ó não quero perder contato com a minha Águia !

S

S S

S S S

Sinto que ela voou para

céus tão altos

onde

se encontra agora ?

Que mãos lhe afagam as plumas

depois

de meu último

abraço

de meu último

beijo

de minha última

c

a

r

í

c

i

a

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? ? ?
Cesar Leal

Relógio de ponto


Tudo que levamos a sério torna-se amargo. Assim os jogos,a poesia, todos os pássaros,mais do que tudo: todo o amor.
De quando em quando faltaremos a algum compromisso na Terra,e atravessaremos os córregos cheios de areia, após as chuvas.
Se alguma súbita alegria retardar o nosso regresso,um inesperado companheiro marcará o nosso cartão.
Tudo que levamos a sério torna-se amargo. Assim as faixas da vitória, a própria vitória,mais do que tudo: o próprio Céu.
De quando em quando faltaremos a algum compromisso na Terra,e lavaremos as pupilas cegas com o verniz das estrelas.
Alberto da Cunha

A máscara


Eu tinha doze ou treze anos quando meu pai comprou a máscara apertada. Fez grande esforço para ajustá-la no meu rosto.
No entanto, fui crescendo, e ela , já opressiva em minha infância, foi cumprindo a missão de torno voraz, de prensa irreversível.
Nas noites de verão, que eram tão temidas na minha aldeia,as secas paredes da máscara, com seus estalos, me assombravam.
Saía então a procurar um amigo, um poeta, um pároco, ansiando que me explicassem o que diziam tais sinais.
Épocas turvas se passaram até que ela, toda rachada, pusesse, à mostra, pelas frestas, algo do monstro que nascia.
Alberto da Cunha Melo
(In Poemas Anteriores. Recife: Ed. Bagaço, 1989)

Sintonia para pressa e presságio





Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.






Paulo Leminski

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundíssimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas —Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!




Augusto dos Anjos

O buraco do espelho





o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora
(Arnaldo Antunes)



(in o carioca - revista de arte e cultura nº 2/ julho e agosto 1996)

Soneto da fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa (me) dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.