domingo, 25 de janeiro de 2009

Soneto XLIV

Se minha carne fosse pensamento
A distância jamais me reteria;
Apesar dos espaços, em um momento,
E bem longe, a ti eu chegaria.
Que importa onde meu pé pudesse estar,
Em que terra de ti tão afastada ?
O pensamento salta terra e mar
Só de pensar na terra desejada.
Morro ao pensar que não sou pensamento,
E que sonhar distâncias não consiga;
Sou feito de água e terras, os elementos
Que ao tempo ocioso e à minha dor me obrigam.
De lentos elementos me resigno,
A ter somente as lágrimas, seus signos.
A um dia de verão como hei de comparar-te ?
A um dia de verão como hei de comparar-te ?
Vencendo-o em equilíbrio, és sempre mais amável!
Em maio o vendaval em ternos botões disparte
E o estio se consome em prazo não durável.
Às vezes, muito quente, o olho de céu fulgura,
Outras vezes se ofusca com a sua tez dourada;
Decai da formosura, é certo, a formosura,
Pelo tempo ou o acaso é enfim desadornada:
Mas teu verão é eterno, e não desmaiará,
Nem hás de a possessão perder tua beleza,
Vagando em sua sombra, o fim não te verá,
Pois neste verso eterno ao tempo, tu te igualas:
Enquanto o homem respire, e os olhos possam ver,
Meu canto existirá, e nele hás de viver.



William Shakespeare

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