segunda-feira, 9 de março de 2009

Os corvos

Ó Deus, quando frio é o prado,
Quando as aldeias se abalaram,
Os longos ângelus se calaram...
Sobre o mato descampado
Faça cair dos altos céus
Os queridos corvos deliciosos.

Estranho exército de gritos severos,
Ventos frios atacam vossos ninhos!
Vós, ao longo dos rios daninhos,
Nos caminhos de antigos calvários,
Nas covas e nas fossas
Dispersai-vos, agrupai-vos!

Aos milhares, nos campos de França,
Onde dormem mortos de ontem,
Volteiem, no inverno, afrontem,
Para que cada um repense!
Seja quem clama pelo dever
Ó nosso fúnebre pássaro negro!

Mas, santos do céu, no alto da árvore,
Mastro perdido na noite benta,
Deixem os pássaros de maio
Para quem na floresta acorrenta,
Da grama de onde não se foge,
A derrota sem futuro.

Arthur Rimbaud

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